5.6.08

Poema esquisito

Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ó mãe, ó pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Óóóó pai
Óóóó mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Óóóói fia.

(Adélia Prado. Poesia Reunida. São Paulo, Ed.Siciliano,1991)

Um comentário:

Arley Bequadro disse...

poemeu!

saudades

saudades é nome.
Devemos escrever Saudades.
Saudades anda em grupo
acompanhando a solidão
alguns dizem que ataca
outros dizem que preenche
Saudades é nobre
faz a gente se curvar
Saudades é dor
e não há remédio
Saudades é mais que amor
cuidado!

P.S.: Desculpe a ousadia, mas, queria te mostrar VEROSSÍMIL da Adélia, que musiquei. Aceita? Como faço?