Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
[Manoel de Barros]
19.7.09
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7 comentários:
Olá Cris, percebi que ficou seguidora do meu blog Rayos de Luna e então vim conhecer seus blogs. Fiquei encantada com a surpresa!
Que delícia de literatura correndo por essas páginas. Amei esse poema do Manoel, este não conhecia. Estou seguindo seus blogs pelo feed, será ótimo encontrar tão nobres linhas enquanto estiver navegando.
Obrigada por seguir o blog, comecei a pouco a 'sentir em versos' ao voltar para um maior contato com a literatura e espero lapidar a cada dia.
Beijos
parece o nada do ventre das palavras
belo escrito
Gosto de vir aqui e "apanhar" as poesias.
Algumas conheço, algumas me são novas, como esta.
Abração
Amo Manuel.e seus silencios cheios de significados.
adorei aqui
Volto
Denise
menina! adorei esse daqui também!
vou voltar mais!
bjs
Manoel de Barros.
Belíssimo poema!
Um beijo,
doce de lira
muito bom, ótima reflexão
Bons dias e bom fim de semana.
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