3.2.12

Talvez por isso ele agora se interrompe para ir até o banheiro, onde olha a cara no espelho sem ver precisamente nada, fora os dois vincos cada vez mais fundos ao lado da boca, marcas de Ogum, então lava devagar as mãos com sabonete alma-de-flores, passa água de alfazema, respira, esperando que o telefone toque para salvá-lo pelo menos momentaneamente desse momento que não decifra nem adjetiva. O telefone não toca e, sem garantias, ele continua a lembrar. Tão perigoso, mesmo passado.


(Caio Fernando Abreu. Saudades de Audrey Hepburn,
in: Os dragões não conhecem o paraíso)

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