'Ando esquisita com a
morte. Ando desinventando ela desde que uns tios que eu amava muito
morreram. Primeiro foi o tio Zezé. Morreu um mês antes do aniversário,
no mesmo dia da Ingrid Bergman e da Grace Kelly. Então... fiquei de
costas o tempo todo, riscando o chão. Tinha uma mãe lá também e os
filhos sofriam muito. Queria dar um abraço, dizer algo, mas não... nada,
nada adianta nessas horas. Fui passando
as páginas e o tio Zé Miguel, poxa! Que tio bacana! No finalzinho,
quando não tinha mais jeito mesmo, cheguei pertinho dele e disse:
Ô tio, quando a gente vai tomar combustível pra foguete de novo?
E digo sem travessão, porque ele não ia responder mesmo.
Fui até o cemitério, coisa que nunca faço e era tão bonito! Tinha tanta
paina voando, tanto siriri dizendo da chuva, tanto cachorro dormindo
por lá que desacreditei. O tio não morreu nada. Quando a gente virar as
costas ele vai sair desse absurdo e ir cuidar do jardim e alimentar essa
cachorrada, tanto ele cuidou da vida inteira. Não me despedi e sempre
penso que preciso ir à casa dele pra ouvi-lo tocar Dilermando Reis.'
Luciane Recieri Dallabrida
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11.8.13
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