11.8.13

'Ando esquisita com a morte. Ando desinventando ela desde que uns tios que eu amava muito morreram. Primeiro foi o tio Zezé. Morreu um mês antes do aniversário, no mesmo dia da Ingrid Bergman e da Grace Kelly. Então... fiquei de costas o tempo todo, riscando o chão. Tinha uma mãe lá também e os filhos sofriam muito. Queria dar um abraço, dizer algo, mas não... nada, nada adianta nessas horas. Fui passando as páginas e o tio Zé Miguel, poxa! Que tio bacana! No finalzinho, quando não tinha mais jeito mesmo, cheguei pertinho dele e disse:
 
Ô tio, quando a gente vai tomar combustível pra foguete de novo?

 
E digo sem travessão, porque ele não ia responder mesmo.
Fui até o cemitério, coisa que nunca faço e era tão bonito! Tinha tanta paina voando, tanto siriri dizendo da chuva, tanto cachorro dormindo por lá que desacreditei. O tio não morreu nada. Quando a gente virar as costas ele vai sair desse absurdo e ir cuidar do jardim e alimentar essa cachorrada, tanto ele cuidou da vida inteira. Não me despedi e sempre penso que preciso ir à casa dele pra ouvi-lo tocar Dilermando Reis.'

Luciane Recieri Dallabrida

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